domingo, janeiro 23, 2022

É preciso acreditar em reencarnação para ser budista?

Revista: É preciso acreditar em reencarnação para ser budista?

Thich Nhat Hanh: Reencarnação significa que há uma alma que sai do seu corpo e entra em outro corpo. Essa é uma idéia muito popular e muito errônea da continuação no Budismo. Se você acredita que existe uma alma, um self que habita um corpo e que se vai quando o corpo se desintegra e assume outra forma, isso não é budismo.

Ao olhar para uma pessoa, você vê cinco skandhas, ou elementos: forma, sentimentos, percepções, formações mentais e consciência. Não há alma, não há self fora desses cinco, portanto quando os cinco elementos se dissolvem, o karma, as ações que você fez ao longo da vida são sua continuação. O que você fez ou pensou ainda continua existindo como energia. Você não precisa de uma alma, ou de um self para continuar. É como uma nuvem. Mesmo quando a nuvem não está ali, ela sempre continua existindo como neve ou chuva. A nuvem não precisa ter alma para ter continuidade.

Não há início nem fim. Você não precisa esperar até que este corpo se dissolva totalmente para ter continuidade – você continua a cada momento. Vamos supor que eu transmita minha energia a centenas de pessoas; essas pessoas serão minha continuação. Se você olhar para elas, poderá me ver nelas. Se você acha que sou isso [Thay aponta para si], então você não me viu. Mas se você me vir em minhas palavras e minhas ações, verá que elas são minha continuação. Ao olhar para meus discípulos, meus alunos, meus livros e meus amigos, você vê minha continuação. Nunca morrerei. Este corpo se dissolverá, mas isso não significa que morrerei. Continuarei, para sempre.

E isso é verdade para todos nós. Você é mais do que este corpo porque os cinco skandhas estão sempre produzindo energia. Isto se chama karma ou ação. No entanto, não há ator – você não precisa de um ator. A ação já é suficiente. Isto pode ser entendido em termos de física quântica. Massa e energia, e força e matéria – não são duas coisas separadas. São a mesma coisa.

Entrevista exclusiva feita por Andrea Miller para Revista Shambhala Sun – janeiro de 2012)

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