quinta-feira, julho 31, 2008

O Caminho para o Bem Estar

Você sabe qual o caminho para o bem-estar? A formulação comum das Quatro Nobres Verdades fala do caminho do sofrimento, mas a irmã Annabel, monja sênior do Thay e abadessa do monastério de Green Mountain, nos ensina de uma maneira diferente. Em uma formulação positiva, ela nos mostra qual o caminho para o bem-estar.(clique aqui)

Ela nos ensina que as Quatro Nobres Verdades são uma prática, e não precisamos ser eruditos para entendê-las. Precisamos apenas ser praticantes. Não precisamos nem mesmo ser budistas. No texto ela nos ensina uma prática bem concreta de trazermos as Nobres Verdades para nossa vida.

Um texto básico de budismo. Leia (clique aqui) e aprenda.

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quarta-feira, julho 30, 2008

Contemplação sobre o retiro em Deer Park por um novato (por Jim Dudley)

Sou um policial por mais de 27 anos na polícia de San Francisco. É um trabalho desafiador, recompensador, mas às vezes difícil. Eu já vi mais que minha parcela de violência e tragédias humanas. (...) Quando minha parceira Susan sugeriu que eu a acompanhasse no retiro em setembro, eu prontamente aceitei. Susan é médica com um estilo de vida similar ao meu – trabalho é importante, valoroso e recompensador, mas também muito estressante. Ela segue o Mestre Thich Nhat Hanh e possui e lê muitos de seus livros.

Nos registramos, fizemos nossa tenda e caminhei pela área. Inicialmente estava um pouco apreensivo sobre os dias seguintes, mas me soltei enquanto caminhávamos montanha acima e olhamos no cânion abaixo. A vista é calmante. (..) Subimos ao deck que tem uma vista do cânion, e que é perto do pagode. As árvores circundam o complexo como vigias. O cheiro das árvores de pimenta ainda está comigo. (...)

Susan e eu somos quase vegetarianos, portanto a mudança na dieta não foi difícil para nenhum de nós. As refeições eram ótimas e era óbvio que muito cuidado e pensamento acontecia a cada refeição preparada para nós. Nosso grupo de discussão de Dharma, “Nomes Verdadeiros”, tinha a tarefa de limpeza, tornando os potes e panelas limpos de novo. Era um trabalho bom, limpo e plenamente consciente que desfrutamos como time.

Quando o grupo de Dharma primeiramente se reuniu no nosso segundo dia, minhas primeiras impressões pegaram o melhor de mim. Eu era muito rápido para julgar as pessoas, aborrecido quando alguém pediu para mover o grupo de um local para outro ou quando alguns falavam muito mais frequentemente que outros. Nos apresentamos seguindo o círculo mas isto foi muito breve. Era aparente que todos éramos da área de San Francisco. Conversamos sobre a palestra de Dharma do Thay e o que isso significou para nós. Pelo menos, alguns de nós falamos. Parecia que aqueles que já pertenciam a Sanghas tinham mais a falar. Eu não estava certo sobre o protocolo, portanto me mantive quieto, preferindo ao invés ouvir e aprender. Eu deixei o grupo me sentindo um pouco frustrado, (...) sentindo como se estivesse em um encontro do clube que eu não era membro.

Não me ajudou o fato de no jantar e depois nos mantivéssemos em silêncio. Eu não podia expressar algumas de minhas frustrações e ignorância a Susan até depois do almoço do dia seguinte. É claro que na tarde seguinte, Susan me desarmou com sua habitual e calma razão. Sua voz suave foi um morno boas vindas depois do silêncio prolongado não familiar. Ela me encorajou a me manter um livro aberto, experimentar os ensinamentos, ouvir e aprender da nossa irmã no Dharma e dos outros no grupo. Eu segui seu conselho com renovada determinação. Eu estava plenamente consciente da respiração. Tornei mais lento meu passo durante a meditação caminhando. Senti meu usual pescoço rígido soltando um pouco.

Eu estava cético com relação às palestras de Dharma. Isto mudou um pouco quando ouvi aos ensinamentos do Thay e percebi que não era retórica, mas razão. Ele falou sobre partilha e sacrifício, esperança e inspiração. Quando ele respondeu perguntas de ambos, crianças e adultos, falou em termos facilmente compreensíveis. Não havia ambigüidade. Ele respondeu às questões diretamente. Ele não disse o que as pessoas queriam ouvir. Às vezes ele pedia aos que perguntavam que olhassem para ele. O melhor de tudo é que ele não julgava os outros.

Em um determinado ponto Thay parecia que estava falando para mim quando falou o quão importante os agentes da lei são para nossa comunidade e que ele já organizou retiro para eles. Ás vezes fiquei indeciso, tentando reconciliar ser plenamente atento em um trabalho que requer que sejamos vigilantes, abordar os outros e reagir rápido com instinto em algumas situações. Às vezes meu trabalho requer que usemos força, em algumas ocasiões força para matar. Ele mencionou seu livro, "Keeping the Peace: Mindfulness and Public Service". Eu pensei que seria bom ler sobre como ser mais plenamente atento na minha profissão.

Quando li os Cinco Treinamentos de Plena Atenção, me perguntei se eu poderia cumpri-los. Susan já tinha indicado que tomaria os votos no último dia do retiro. Eu verdadeiramente lutei com o pensamento. Eu poderia facilmente ter dito que iria tentar, como disse alguém no nosso grupo de Dharma, que eles eram "apenas guias". Alguns dos outros no nosso grupo lutaram contra o pensamento assim como eu. Alguns falaram em tomar os treinamentos e segui-los estritamente, enquanto outros davam suas versões do que é verdadeiro comprometimento, com alguma falha misturada.

Enquanto falávamos, o grupo se transformou diante de meus olhos. Indivíduos que anteriormente me aborreceram e que eu via como caricaturas, falavam com compaixão e insight. Um casal falou de tragédias pessoais que levaram eles a um comprometimento profundo com os Treinamentos. Outros falaram de suas religiões anteriores recebidas na infância e o conflito que isso causou dentro delas. Outros ainda falaram de conflitos morais e éticos com o que previamente conheciam. Ocorreu-me que a escolha é de fato um comprometimento pessoal que uma pessoa pode fazer somente por si mesma. No final, encontrei um respeito renovado por todos no meu grupo e desejei que tivéssemos tido essa conversa mais cedo na semana. Eu quis conhecê-los melhor e falar mais sobre mim.

Na manhã seguinte, sentei e assisti enquanto Susan e vários outros no nosso grupo de Dharma se comprometeram com os Cinco Treinamentos de Plena Atenção. A sala de meditação estava completamente cheia de gente apesar de ser bem cedo. Eu ouvi a descrição de cada um dos Cinco Treinamentos e as respostas dos homens, mulheres e crianças que participaram. Uma parte de mim queria estar ali também. Na conclusão da cerimônia, eu testemunhei o quanto isso significou para Susan, enquanto ela abraçava seus amigos e abertamente chorava. Lágrimas de alegria fluíam livremente na sala, incluindo algumas do meu grupo de discussão do Dharma que fizeram reservas a cerca dos Treinamentos na noite anterior. Eu estava feliz que falamos sobre nos encontrarmos novamente ao voltarmos para San Francisco.

Susan e eu juntamos e embalamos as coisas para voltarmos para casa. Desfrutamos de nosso último almoço com alguns de nossos amigos e demos nosso adeus. O que parecia ser potencialmente uma estadia muito longa quando chegamos, mudou para uma curta visita enquanto nos preparávamos para ir. Desde que voltamos para casa, ainda tento viver no presente, mastigar devagar e desfrutar minha comida, ser plenamente atento às coisas que faço. Sei que fisicamente me sinto melhor e muito mais relaxado. Eu realizei algumas caminhadas meditativas e sempre desfruto do relaxamento profundo, meu tipo favorito de meditação. Eu paro quando ouço um sino e lembro de respirar. Tento ser plenamente atento aos outros e não tão rápido para julgar. Estou começando a entender a filosofia de comunidade e apoio e tentarei ensinar e praticar com os outros.

Este retiro não será meu último.

(Jim Dudley é capitão da polícia de San Francisco)

quarta-feira, julho 23, 2008

Você é um Buda em potencial

O texto que sugerimos essa semana (clique aqui) vem te lembrar um grande fato. Você é um Buda em potencial. Todos temos o Buda interior que precisamos desenvolver de forma a transformarmos nosso sofrimento.

Thay nos ensina a conversar com nosso Buda interior, uma prática que toca todas as qualidades do Buda e percebe que o Buda é absolutamente real – não uma idéia, não uma noção, mas uma realidade. Nossa tarefa, nossa vida, nossa prática é nutrir o Buda em nós e nas pessoas que amamos. Thay também nos ensina a forma correta de tocar o sino, a voz do Buda, que nos ajuda na nossa prática.

Um texto básico de budismo. Leia (clique aqui) e aprenda. Divida seu insight sobre o texto em nosso blog.

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segunda-feira, julho 21, 2008

Sem Medo, Sem Visão (Irmão Phap Luu)

Muito do sofrimento que experimentamos no mundo, nos EUA hoje em dia, é devido ao medo. Vem do sentimento de sermos uma vítima, do sentimento que não estamos no controle, do sentimento que estão fora de nós forças que de alguma forma tem poder sobre nós. Portanto a questão é como trazemos o Dharma para este momento, para dentro de nossas vidas, de forma que possamos gerar não-medo em nós mesmos e naqueles ao nosso redor?

Se perguntarmos a nós mesmos a questão, a cada momento, estamos realmente perguntando a nós mesmos, como eu estou gerando não-medo para mim mesmo, para minha família, para minha comunidade? Deste modo não somos mais prisioneiros de nenhum governo, de nossa sociedade, do medo de que alguém está vindo e atirando no nosso filho pequeno, ou qualquer outro medo que tenhamos.

Nossos medos são irracionais. Entramos em carros e dirigimos por aí todo dia, e é muito mais provável que morramos em um acidente de carro do que sermos seqüestrados em um avião. Aquecimento global é algo para se temer – estamos falando sobre todas gerações seguintes.

Na minha prática, quando eu olho para o que eu faço a cada momento, eu tomo cuidado em não basear o que eu estou fazendo em uma visão. Eu sinto que isto é uma grande causa pela qual somos ineficientes em transformar o modo que a sociedade funciona. Eu pertencia a grupos ativistas antes de me tornar um monge, portanto experimentei o que significa basear as ações em uma visão. ”Isto é claro, estas pessoas estão matando, estão destruindo o ambiente, certo? Portanto eu tenho que fazer isso.”

No seu ensinamento do Nobre Caminho Óctuplo, o Buda disse que tudo é baseado na visão correta. Se não temos a visão correta, como podemos falar sobre pensamento correto? Como podemos falar sobre concentração correta? Precisamos ter uma visão correta.

Em última análise visão correta é a ausência de qualquer visão. É apenas uma questão de se temos clareza ou não. Não é uma questão de bom ou mau, de julgar, punir ou mesmo estatística. Estas são todas apenas visões, modos de ver o mundo. Avidya é ignorância; uma maneira de traduzir essa palavra é ausência de luz.

Como podemos deixar esta mente clara a cada momento? Não há medo, porque na claridade não há nascimento, não há morte. É apenas manifestação e ausência de manifestação.

O que fazemos hoje em dia, dez mil anos atrás era a mesma coisa. No tempo do Buda, havia um príncipe que matou seu pai e aterrorizou o país. O Buda não saiu e protestou. Isto é o que eles faziam naquele tempo. Agora temos eleições.

Quando fazemos meditação caminhando com Thay, chamamos isso uma caminhada de paz, mas o que está acontecendo lá? Já andei com faixas, é muito tedioso. Mas quando você vê Thay andando, é realmente interessante! Você não está tão certo do que ele está fazendo. E nós também não! Nós estamos andando. Não, estamos seguindo nossa respiração, estamos seguindo nossos passos.

(Irmão Phap Luu, Monge de Deer Park – publicado na revista Mindfulness Bell 45)

quinta-feira, julho 17, 2008

Questões sobre oração

Você costuma orar? Para quem rezamos no budismo? Há diferença entre a oração dos cristãos e a oração budista? Como evitar a armadilha da rotina na oração? É importante manter a postura do corpo na oração?

No texto dessa semana (clique aqui), extraído de uma entrevista a uma revista americana, Thay responde a algumas perguntas sobre a oração. Ele diz que orar é também pedir ajuda, e na tradição budista, pedimos ajuda à Sangha, pedimos ajuda ao Buda. Explica também que você não apenas pratica meditação com sua mente, sua mente é a metade. Você tem que meditar com seu corpo também.

Um texto muito interessante. Leia (clique aqui) e aprenda. Divida seu insight sobre o texto em nosso blog.

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segunda-feira, julho 14, 2008

Se eu morresse amanhã - por Irmã Chan Khong

Um dia em 1981, vendo o quanto eu estava absorvida enrolando pacotes para crianças famintas no Vietnã, Thay Nhat Hanh me perguntou: “Se você morresse hoje a noite, estaria preparada?” Ele disse que devemos viver nossas vidas de forma que se morrermos de repente, não tenhamos nada a lamentar. “Chan Khong você tem que aprender a viver livre como as nuvens ou a chuva. Se você morrer hoje a noite, não deveria sentir nenhum medo ou lamento. Você se tornará alguma coisa diferente, tão maravilhosa como é agora. Mas se você lamentar perder sua forma atual, não estará liberada. Ser liberada significa perceber que nada pode te obstruir, te impedir, mesmo enquanto cruza o oceano do nascimento e morte.”

Suas palavras me perfuraram e eu permaneci em silêncio por vários dias. Não, eu não estava preparada para morrer. Meu trabalho era minha vida. Eu tinha encontrado meios de ajudar as crianças famintas, apesar das dificuldades, e estava feliz de novo. Se eu morresse de repente, quem continuaria esse trabalho?

Eu contemplei muitas questões práticas como essa, enquanto seguia cada inspiração e cada expiração. Eu não estava exatamente tentando achar a solução. Eu sabia que a habilidade de achar uma estava em mim e quando eu estivesse calma o suficiente, uma resposta se revelaria por si. Portanto eu continuei a respirar e sorrir, e alguns dias depois, eu realmente vi a solução. Eu sabia que a única maneira que me permitiria morrer em paz seria se eu renascesse em outros que desejassem fazer o mesmo trabalho. Então minha aspiração poderia continuar mesmo se esse corpo falecesse. Eu pensei sobre os jovens que vinham para praticar plena atenção com Thay e decidi compartilhar com eles minhas experiências e desejos profundos sobre ajudar pessoas que sofrem. Eu os ensinaria como escolher remédios, como embrulhar pacotes, como escrever cartas pessoais aos pobres, e como manter os ocidentais em contato com o sofrimento das pessoas no Vietnã. Alguns jovens ficaram inspirados a começar seus próprios comitês, e hoje há trinta e oito comitês para crianças famintas. Se eu morrer hoje a noite de acidente de carro ou de ataque cardíaco, estas trinta e oito reencarnações me permitirão morrer em paz.

Nguyen Anh Huong, que chegou aos Estados Unidos em 1981, ouviu atenta a tudo que eu disse e me perguntou como começar um projeto. Como refugiada recém-chegada, ela conhecia melhor que eu as muitas famílias em grande sofrimento no Vietnã. Eu a encorajei a preparar sua própria lista de famílias que precisavam de ajuda e a achar patrocinadores para elas. Quando as crianças famintas escrevessem agradecendo, ela poderia traduzir as cartas e mandá-las aos patrocinadores. Lentamente, Anh Huong foi capaz de ajudar centenas de famílias. Bui Than Vu em Paris tem muitas famílias, Bui Ngoc Thuy em Sceaux na França tem oitenta e seis famílias, Annabel Laity em Plum Village está encarregada de quarenta famílias. Adicionalmente, quase todas as irmãs vietnamitas da ordem Tiep Hien (Ordem Interser) na Suíça, Austrália, Canadá, Alemanha e França têm ajudado grupos de famílias famintas.

Se hoje a noite meu coração parar de bater, você verá meu trabalho em todas essas irmãs e irmãos. Há aqueles que continuam meu trabalho pelas crianças famintas, outros que gostam de meu trabalho de ouvir o sofrimento das pessoas de forma que possam ser curadas. Você pode ver meu sorriso no seu olhar e minha voz nas suas palavras. Mas não verá minhas deficiências neles. O samsara de minhas deficiências terminará no dia que esse corpo for transformado em cinzas e então se tornar flor de novo.

Onde quer que eu faça algo, eu vejo os olhos de meus pais e avós em mim. Quando eu trabalhei com aldeões, sempre tinha a impressão que estava fazendo o trabalho conjuntamente com eles e também com as mãos amorosas daqueles amigos que economizaram um punhado de arroz ou poucos dólares para apoiar o trabalho. Minhas mãos eram suas mãos. Meu amor era o amor maravilhoso da rede de ancestrais, pais, parentes e amigos nascidos em mim. O trabalho que eu tenho feito é o trabalho de todos. Não é apenas meu trabalho. Enquanto você lê essas linhas e sabe que, em uma remota área do Vietnã, crianças que são severamente mal nutridas estão recebendo recursos de Plum Village, você pode ver o ato de amor do trabalho coletivo de milhares de mãos e corações. Todos nós, de fato, intersomos. Eu continuarei em cada um e cada coisa que eu já toquei. Não tenho nada a temer e nada a lamentar.

Queridos leitores, agradeço pela sua paciência em ler esse texto. Eu estou com você da mesma forma que você tem estado comigo, e nos encorajamos a perceber nosso mais profundo amor, carinho e generosidade. Juntos no caminho do amor, podemos tentar fazer pequenas diferenças na vida de alguém. O que mais há para fazer?

Quem é a irmã Chan Khong? Quem é Cao Ngoc Phuong? Ela é feita dos seus ancestrais, da terra chamada Vietnã, do ar, do sofrimento, das amizades, dos ensinamentos, da cruel ignorância dos que fazem a guerra, e do amor e entendimento de muitos professores e amigos durante seus primeiros trinta anos naquela parte do mundo e então quase quarenta anos entre muitos bodisatvas no ocidente. As experiências que compartilho são as experiências coletivas de todos que compartilharam a vida comigo.

Se você puder visitar Plum Village onde eu vivo, verá que não precisamos muito para sermos felizes. Um pedaço de madeira sobre quatro tijolos para uma cama, um fina espuma de colchão, um saco de dormir, um lençol fino, algumas caixas para nossos arquivos e muita inspiração e expiração consciente para termos consciência de nossa boa sorte por estar em paz e liberdade para trabalhar por aqueles em necessidade. Cartas vêm todo dia, trazendo boas notícias de trabalhos inspiradores. Mas algumas cartas e telefonemas trazem notícias que nosso trabalho falhou em algumas áreas. Respiração consciente sempre nos ajuda a acalmar e nos renovar de forma que possamos melhor lidar com as dificuldades e transformá-las. Sabemos que você pode fazer até melhor do que fizemos. Portanto é meu desejo que esse texto, este trabalho pelas crianças famintas, este trabalho organizando retiros tenha sido útil para você como testemunha de nossa prática de interser nesta maravilhosa viagem juntos.

- Irmã Chan Khong (primeira ajudante do Thay e com ele nos últimos 40 anos)

quarta-feira, julho 09, 2008

Sexualidade

Um tema que é sempre um tabu em nossa sociedade é a sexualidade. Nessa semana trazemos até você (clique aqui) respostas do Thay a perguntas feitas em retiros sobre esse tema.

Nas respostas Thay declara que o ato sexual pode ser muito sagrado, muito bonito, e também muito espiritual se está junto a compreensão profunda, aspiração profunda. Ele também pensa que a questão relativa a sexualidade no fundo é como administrar, como tomar cuidado com as fontes de energia em nós. Mas ele ressalva que a energia sexual é apenas um tipo de energia e todos temos energia sexual dentro de nós. Ela não deve ser olhada como algo maligno. Nós temos nossa humanidade dentro de nós, mas também temos nossa animalidade dentro de nós. Essas duas naturezas não têm que se contradizer.

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segunda-feira, julho 07, 2008

Minha História de Amor com Plum Village

Eu conheci a irmã Chan Khong em Paris, em Setembro de 1972 em uma reunião de um grupo ativista não violento liderado por César Chavez. Ela veio para compartilhar seu compromisso de reduzir o sofrimento no Vietnã. Era um tempo de guerra. Ela era leiga e também era fácil para mim ver que ela era movida por amor. Este amor me tocou profundamente e mudou completamente minha vida. No final da reunião, eu estava tão ávido por apoiá-la que perguntei se era possível encontrá-la de novo. Ela concordou e fiquei tão feliz porque meu desejo não era de fato encontrá-la de novo. Era encontrá-la muitas e muitas vezes! E eu tinha uma chance de fazê-lo.

No dia seguinte fui a Sceaux no sul de Paris onde ela estava trabalhando com a delegação oficial da Igreja Budista Unificada do Vietnã. Ela estava me ensinando como sentar no chão quando alguém entrou na sala em tanto silêncio que eu mal o notei. Ele sentou e sorriu para mim. Irmã Chan Khong me apresentou e disse que seu nome era Thich Nhat Hanh. Eu nunca esqueci este momento. Era como uma luz que muda tudo que vemos pela sua aparência brilhante. Nada era o mesmo apenas pela sua simples presença. Mas eu ainda estou envergonhado. Eu tirei um cigarro e comecei a fumar enquanto Thay estava falando para nós! Eu tinha 17 anos, era jovem e bobo. Thay não me embaraçou ou me pediu para parar. Ele apenas me aceitou do jeito que eu era. Esta foi uma experiência muito, muito especial que ainda me nutre. Eu esqueci suas palavras, mas não o efeito de sua presença e seu comportamento. Lentamente, fiquei consciente que eu estava à frente de um ser humano santo, um verdadeiro mestre espiritual.

Irmã Chan Khong me deu algum material para ler. Nele havia algumas cartas particulares. À noite eu comecei a ler. Então caí em lágrimas. A noite toda eu fiquei lendo estas cartas e chorando. A autora dessas cartas era Nhat Chi Mai. Eram cartas que escritas imediatamente antes de sua imolação. Através da imprensa eu tinha ouvido sobre as pessoas que se imolavam no Vietnã, mas eu era incapaz de entender isso como nada além de suicídio a partir do desespero. Lendo as cartas de Chi Mai, eu percebi seu desejo pleno e sincero de se tornar uma luz para ajudar todos nós a ver o que era real. Ela se tornou a luz que desejava. Mai se tornou minha querida luz desde aquela noite e ela ainda está aqui para nós em Plum Village, mesmo que não a notemos.

Isto foi como Plum Village nasceu no meu coração. Um presente de irmãs e irmãos morando no paraíso e inferno ao mesmo tempo, mas firmemente se recusando a deixar o inferno com ainda tantas pessoas nele. Eles estavam tentando trazer todos para o paraíso, enquanto viviam de forma simples com uma prática espiritual ensinada a milhares de anos atrás. Eles partiram meu coração devido a seu modo de vida, e foi como Plum Village começou a crescer profundamente em mim. A ordem Tiep Hien (Ordem do Interser) nutriu as sementes plantadas nesta noite, dia a dia.

Neste tempo, não havia um lugar chamado “Plum Village”. O nome ainda viria, mas o coração de “Plum Village”, a comunidade Tiep Hien, já tinha sido estabelecida por Thay no Vietnã. Nhat Chi Mai e a irmã Chan Khong estavam entre os primeiros leigos desta comunidade criada por Thay. Cada membro era sustentado pelo compromisso e a prática dos demais. Thay era o exemplo para cada um de nós seguindo como nosso guia, nosso pai espiritual. Seus ensinamentos não eram apenas o que ele escrevia, mas sua prática em cada momento. Um tipo de estrela polar para pessoas perdidas no oceano como eu. Ele nos estava mostrando o caminho naquele tempo, assim como hoje. Consciente das necessidades de um centro de retiro para alimentar nossa alegria e aprofundar nossa prática, Thay primeiramente começou um pequeno centro de prática em Fontvannes, não muito longe de Paris. Era de muito ajuda para todos nós. Mas, naquele tempo, “todos” éramos apenas cinco a dez pessoas!

O final da “guerra oficial” chegou ao Vietnã. Poucos meses depois, começou um fluxo de refugiados nos mares perigosos. “Plum Village” se tornou um barco no oceano para resgatá-los, com Thay e irmã Chan Khong a bordo. Os refugiados alcançaram a Europa. O governo e as pessoas estavam dando alívio e ajuda, mas havia muita dor em cada coração. Como trazer paz a estes corações partidos? Como oferecer suporte espiritual para cada um, especialmente as crianças? Eu lembro dos sentimentos de Thay e irmã Chan Khong por todas as crianças. Para mim, é o sofrimento destas crianças que foi o verdadeiro fundador de Plum Village, da qual tantos seres humanos se beneficiam hoje. Era tão difícil ser um refugiado depois de tamanha vida dura no Vietnã. Penso que apenas Thay ouviu o chamado por um “refugiado” – um verdadeiro refúgio espiritual, uma comunidade de prática. Desta necessidade, o nome “Plum Village” estava nascendo. Um verdadeiro refúgio para a Ordem Tiep Hien dar boas vindas para aqueles que sofrem. “Plum Village” nunca foi um conceito – apenas uma resposta apropriada para uma necessidade real, e veio do amor e dos corações abertos de Thay e irmã Chan Khong.

Recentemente eu visitei Plum Village. Estava tão emocionado pelas pedras que ainda são as mesmas. Sua transformação é lenta. Eu as reverenciei sabendo o quão lento eu estou na minha transformação. Eu fiquei emocionado também com as árvores. Lembro delas ainda tão pequenas. Fiquei um tempo olhando cada uma delas, uma por uma. Cada uma me lembrava a sabedoria de Thay. Ele ama tanto as crianças e seu amor é tão criativo. Ele teve a idéia de oferecer uma pequena árvore para cada criança refugiada vietnamita e convidou cada uma a tomar conta e nutrir a árvore e então oferecer os frutos da árvore para uma criança no Vietnã. Cada árvore em Plum Village ajudou duas crianças. Uma era uma refugiada e a outra estava no Vietnã. As ameixas são frutos para nutrir a espiritualidade de cada criança por compartilhar o processo. A sabedoria e criatividade do amor de Thay parecem não ter limites. Muitas pessoas vem e vão, mas as árvores permanecem.

Plum Village é uma dos lares da Ordem Tiep Hien, a Ordem do Interser. Não é sempre fácil interser em plena atenção, mas aqueles que vão lá não estão procurando por um caminho fácil. Apenas comprometidos em tentar, de novo e de novo, a seguir o caminho da plena consciência. As primeiras pessoas a viverem nos hamlets (alojamentos de Plum Village) eram do Vietnã e refugiados de muitos lugares. Plum Village nasceu deles e para eles. Depois os americanos vieram, e poucos franceses. Então, passo a passo, pessoas de todo mundo a visitaram, e mais recentemente da China. Então os franceses finalmente! Cada pessoa traz sua própria cultura e Plum Village parece estar apta a dar boas vindas e integrá-las sem nenhuma discriminação. Plum Village está viva. Nunca é a mesma, mas sempre surpreendentemente nova a cada momento, como uma história de amor sem fim – uma história de inclusividade.

Um dia, há alguns anos atrás, eu vi um monge trabalhando nossa mãe Terra. Eu pensei que era Thich Nhat Hanh, porque eu o vi fazendo isto muitas vezes. Tão feliz por vê-lo, eu chamei “Thay”. Quando o monge virou seu rosto para mim e sorriu, eu percebi que ele não era Thich Nhat Hanh. Ao mesmo momento eu concluí que ele era Thich Nhat Hanh também. Eu fiquei repentinamente deliciado. Thich Nhat Hanh, meu pai, estava aqui em tantos corpos!

Quando eu sentei com Thay e irmã Chan Khong antes de deixar Plum Village recentemente, percebi profundamente que estava em frente de meu pai e minha mãe. Eu desfrutei demais da presença deles, da mesma maneira que da primeira vez que os vi. Estávamos juntos novamente, nós três em uma sala pequena e simples. Eu percebi que nunca nos separamos desde o nosso primeiro encontro trinta anos atrás. Desta vez ele estava deitado quietamente em uma rede e a qualidade da luz que emanava era ainda a mesma. No final, eu disse a Thay que estava feliz demais por ter um pai desses. Ele riu para mim muito gentilmente, como o mais doce dos beijos. Plum Village é também tantos sorrisos e beijos de inúmeros olhos!

Plum Village é um presente das crianças do Vietnã para todas as crianças do mundo. Que possamos abençoá-las pela nossa prática. Trinta anos atrás, Plum Village era apenas dois rostos amorosos, Thay e irmã Chan Khong. Eu sou tão grato por eles terem me dado tantos irmãos e irmãs. Sinto que Plum Village nasceu do amor e para celebrar e praticar amor.

- Pierre Marchand

quinta-feira, julho 03, 2008

A Prática é Mais Fácil com a Sangha

Uma Sangha é uma comunidade de amigos praticando o Dharma juntos de forma a fazer acontecer e manter a consciência. Sem o refúgio em uma Sangha nossa prática tende a enfraquecer.

Nessa semana, enviamos texto do Thay (clique aqui), onde ele explica que quando sentamos juntos como uma Sangha, desfrutamos da energia coletiva da plena atenção e cada um de nós permite que a energia de plena atenção da Sangha penetre em nós. Mesmo que você não faça nada, se apenas parar de pensar e se permitir absorver a energia coletiva da Sangha, já será muito curador.

Leia (clique aqui) e experimente praticar com uma Sangha. Há sanghas da tradição do Thich Nhat Hanh no Rio, São Paulo e Natal. Os endereços estão na coluna ao lado.

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