quarta-feira, setembro 10, 2008

Reflexão sobre o 5o. Treinamento

Nos meus estudos, aprendi que o insight era uma das portas para a liberação e que não-eu, impermanência e não-sofrimento eram as chaves para o insight. Estas eram idéias interessantes, mas eu não conseguia realmente descobrir como praticá-las. Resultou que minha prática com álcool me deu meu primeiro lampejo dentro do não-eu.

Inicialmente, quando eu praticava o Quinto Treinamento de Plena Atenção, era sempre forçado, quase um esforço físico evitar beber. Às vezes esta técnica não funcionava e eu acabava bebendo. Nesses casos eu frequentemente tentei trazer minha plena consciência à minha bebida, tomando ciência de como ela me fazia sentir. Eu trazia consciência para as razões que me levavam a beber e descobria o desejo de me conectar mais profundamente com os outros, de escapar das emoções negativas e para me sentir mais confiante. Às vezes notar esses desejos fazia com que minha cerveja não fosse terminada.

Com o tempo, eu vi como minha vida estava melhorando por reduzir o consumo de álcool. Embora ocasionalmente me sentisse como se estivesse faltando algo para a alegria. Outras vezes era o oposto, um sentimento de culpa por beber e ir contra meu voto. E outras vezes eu subia no meu cavalo alto e dizia a meus amigos o quanto eles eram maus por beber.

Plena atenção fez com que fosse cada vez mais fácil não beber. Eu comecei a me sentir mais livre. Então algo mudou - eu percebi como o fato de eu beber encorajaria meus amigos a beber. É fácil beber quando outros estão fazendo isso. Eu vi que ao comprar uma cerveja, estava pagando pelos anúncios da indústria do álcool. Eu era parcialmente responsável pelo problema do alcoolismo que temos em nossa sociedade. Meu ponto de vista se deslocou - não era mais apenas somente sobre mim. Quando eu vi isto pela primeira vez, e entendi isso em meu coração, então neste momento todo desejo de beber foi removido. Não havia sentimento de culpa, não havia sentimento de estar perdendo algo, nenhum desejo de escapar. Substituindo o desejo estava um sentimento de amor e cuidado pelos meus amigos. Eu percebi que poderia me conectar com eles de um modo verdadeiro sem a necessidade de álcool. Eu poderia estar com eles sem julgá-los pelo fato deles beberem. Eu me senti muito livre. Eu senti que pela primeira vez em minha vida, minhas intenções finalmente estavam em linha com minhas aspirações.

O insight do não-eu e a mente do amor estão presentes com sua voz clara: não é apenas sobre mim.

- Paul Baranowski (Solid Awakening of the Heart), Toronto Canadá
Publicado na revista Mindfulness Bell n. 48

Um comentário:

Anônimo disse...

Fiquei muito emocionada com o relato. Senti a presença do meu amigo de Sangha. Queria que ele lesse também. Por entender o alcoolismo como doença, acabo acreditando que o único jeito de sair seja com ajuda(e a mais eficaz que vi foi o AA-Alcoolico Anônimos). Vejo então que sempre há outra possibilidade. A meditação do não-eu e da impermanência também tem me ajudado em muitos momentos. Sei que meu amigo também tem praticado. Certamente os insights vão chegar e ele vai se libertar do álcool, alcançando maior felicidade e paz.