terça-feira, outubro 14, 2008

Soltando nossas vacas

Muita alegria e felicidade vêm de sair ou deixar algo para trás. Suponha que você está sofrendo com o barulho, poluição e estresse da cidade. É sexta-feira de tarde e você quer sair. Você entra no seu carro e dirige. Uma vez que está no campo com bonitas árvores, céu azul e o canto dos pássaros, você sente alegria. A alegria que você experimenta de estar no campo nasceu de ter abandonado a cidade, de ter deixado algo para trás.

Há muitas coisas que não somos capazes de deixar para trás que nos prendem. Pratique olhar em profundidade para essas coisas. No começo, pode achar que elas são vitais para nossa felicidade, mas elas podem, na verdade, serem obstáculos para sua verdadeira felicidade, causando seu sofrimento. Se você não está feliz por que está preso nelas, deixá-las para trás será fonte de alegria para você. O Buda e muitos de seus discípulos experimentaram isso, e passaram sua sabedoria para nós. Por favor, olhe para as coisas que você acha necessárias para o seu bem estar e felicidade e descubra se elas te trazem felicidade ou estão quase te matando.

Um dia o Buda estava sentado com um grupo de monges na floresta perto de Sravasti. Eles haviam acabado de almoçar e estavam em uma pequena palestra de Dharma. De repente um fazendeiro se aproximou. Estava visivelmente chateado e gritou, “Monges! Vocês viram minhas vacas?”

O Buda disse, “Não vimos nenhuma vaca.”

“Sabem monges”, o homem disse, “Eu sou a pessoa mais miserável na Terra. Por alguma razão minhas 12 vacas fugiram esta manhã. Eu tenho apenas dois acres de plantação de gergelim e este ano os insetos comeram todas as plantas. Penso que vou me suicidar.” O fazendeiro estava realmente sofrendo.

Cheio de compaixão o Buda disse. “Não senhor, não vimos suas vacas. Talvez você deva procurá-las em outro lugar.”

Quando o fazendeiro se foi, o Buda virou para seus monges, olhou para eles profundamente, sorriu e disse, “Queridos amigos, vocês sabem que são as pessoas mais felizes do mundo. Vocês não têm vacas para perder.“ [risos]

Portanto amigos, se vocês têm vacas, olhem profundamente para a natureza delas para ver se elas estão trazendo felicidade ou sofrimento. Vocês deveriam aprender a arte de soltar suas vacas. A chave é deixar ir e libertar a si mesmo. Um monge ou monja deveria apenas ter três robes e uma tigela, porque liberdade é a posse mais valorosa.

Liberdade é a base de nossa felicidade. Não podemos ser felizes se estamos presos. Solidez e liberdade são a base autêntica de nossa felicidade. É por isso que praticamos para restabelecer nossa liberdade e criar espaço ao nosso redor. Também, quando você ama e é amado, se não há liberdade, seu amor pode ser sufocante. Você não pode ser livre com este tipo de amor que tira sua liberdade e não permite que você seja você mesmo. Este tipo de amor não é autêntico; é uma vaca. Você deve achar coragem de deixar suas vacas irem.

- Thich Nhat Hanh (Retiro nos EUA em 27 de maio de 1998. Do livro "The Path of Emancipation")

6 comentários:

Anônimo disse...

Há situações, como o matrimônio, que não se pode "soltar as vacas", mesmo quando já não há amor. Por motivos sérios, como doença ou envelhecimento, acredito que em respeito e usando o amor-bondade, deve-se respeitar o não querer do outro. Devo estar errada, mas abro espaço para correções.
Maravilhoso este texto. Tenho muitas vacas para soltar. E vou começar logo.

Mirze

Unknown disse...

Meu e-mail: mirse03@gmail.com

Anônimo disse...

Acredito que antes da separação pode ser tentado um começar de novo. A prática está nesse blog. Essa prática produz efeitos maravilhosos.

Se após todas as tentativas, o casal chegar a conclusão que juntos só se produz sofrimento, isso deve ser olhado com mais profundidade. Eventualmente a separação pode ser uma solução que alivia sofrimento de ambos.

Anônimo disse...

SEMPRE devemos lutar por nossas vaquinhas.A vida e otima. E sao de nossas vacas que temosnosso leitinho.

Anônimo disse...

Amigo Anônimo,

Cuidado com o SEMPRE. Cuidado com sua luta. Esse caminho pode te levar ao sofrimento. É uma ilusão achar que o seu leite vem dessas vacas. Se essas forem embora, outras aparecerão. Cuidado com o apego excessivo...

Mario disse...

Caro chará, fiquei feliz por sua resposta. O amigo sem nome acima quis fazer uma brincadeira e se tornou um instrumento gerador de esclarecimento. O desapego é difícil e, nesse caso, ainda, vem a questão da impermanência e da morte, pois quem ficar com as vacas até o fim, verá a morte chegar e levá-las. Isso, se o dono da vaca nao morrer antes.