sexta-feira, outubro 29, 2010

Não vindo, nem indo

Não vindo, nem indo;
Nem antes, nem depois.
Tenho você junto a mim,
Deixo você ir para que seja livre.
Porque estou em você, e você está em mim.
Porque estou em você, e você está em mim


Versão em Mp3 (Clique aqui)
Voz: Gisele Tigre
Violão:Oriana Brás
Mixagem: Filipe Coury
Produção: ©Sangha Viver Consciente 2010


quarta-feira, outubro 27, 2010

Músicas de Plena Consciência

A Sangha Viver Consciente gravou algumas músicas de Plum Village que têm versão em português. Publicaremos essas músicas aos poucos para você desfrutar e praticar. Abaixo a música mais cantada e com versões em inúmeras línguas: Inspirando, Expirando.

Inspirando, Expirando

Inspirando, expirando
Eu floresço num jardim
Sou suave como o orvalho
Sou tão sólido quanto a montanha
E sou firme como a terra
Eu sou livre

Inspirando, expirando, inspirando, expirando
Sou espelho como a água
que reflete a realidade
E eu sinto que há espaço
bem dentro de mim
Eu sou livre, eu sou livre, eu sou livre


Versão em Mp3 (Clique aqui)
Voz: Gisele Tigre
Violão:Oriana Brás
Mixagem: Filipe Cury
Produção: ©Sangha Viver Consciente 2010



quinta-feira, outubro 21, 2010

O que fazer quando ficamos com raiva?

Quando menos esperamos a raiva pode nos subjugar. Nossa mente se estreita, nossa paciência vai embora e o que pensamos ser a causa da nossa raiva é atacada por pensamentos, palavras ou até ações. Muitos hormônios nocivos são lançados na nossa corrente sanguínea , nossos batimentos cardíacos sobem e perdemos temporariamente a lucidez. A beleza do mundo some e nossa mente passa a andar em círculos, presa, sem liberdade. O que fazer quando isso acontece?

Thich Nhat Hanh responde a esta pergunta no texto sugerido desta semana ( clique aqui ). Ele nos ensina que o modo mais sábio é reconhecê-la, permitir que exista, e abraçá-la ternamente. Nunca reprimi-la. Você a abraça ternamente com a energia de plena atenção. O Buda recomendou enquanto estivermos bravos nós não digamos ou façamos qualquer coisa, porque isso é perigoso. Após abraçar a raiva é muito importante praticar o olhar em profundidade nas raízes de nossa raiva.

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quarta-feira, outubro 20, 2010

Experimentando a Medicina Zen (por Erica Hamilton)

Em dezembro de 1997, eu era aluna de pós-graduação no programa de psicologia comunitária da Georgia State University. Ao final do primeiro semestre, fiquei muito doente e tive que passar todas as três semanas das férias de inverno na cama. Precisava ir ao banheiro mais de 15 vezes por dia e defecava sangue. Tinha febre todos os dias. Foi então que os médicos me diagnosticaram pela primeira vez com doença inflamatória intestinal. Naquela época, disseram-me que eu tinha colite ulcerativa, mas depois mudaram o diagnóstico para doença de Crohn.

Corticóides, que inibem o sistema imunológico, e “Asacol,” um remédio para tratar DII, contribuíram para a remissão temporária dos sintomas – mas esses corticóides tinham uma desvantagem: deixavam-me agitada. Com esses remédios, eu ficava “ligada” vinte e quatro horas por dia. Minha mente não parava nunca e era difícil adormecer ou ter uma boa noite de sono.

No início de 1998, a doença voltou, atacou meu intestino durante vários meses e depois cedeu por mais alguns meses. Depois voltou novamente, aquietou-se de novo, em um ciclo interminável. Naquela época, os médicos só identificaram a doença em meu colo sigmóide e o uso de corticóides foi eficaz, permitindo a remissão da doença. Em cada episódio, eu passava meses alimentando-me de uma dieta insossa, consumindo alimentos simples, que raramente incluíam vegetais, frutas, frutas secas, feijões ou sementes. Minha dieta básica consistia de arroz, massas, ovos, tofu, peixe e bananas. Era comum eu acordar com a sensação de ter que ir correndo ao banheiro, ainda de madrugada. Sentia dor e urgência intestinal, dia e noite.

Os ciclos continuavam – alguns meses sentindo-me mal, perdendo peso, seguidos por alguns meses de recuperação e ganho de peso – durante vários anos. Na verdade, eu diria que terminei minha tese de mestrado graças à terapia com corticóides, pois os medicamentos me davam insônia e me permitiam trabalhar até tarde da noite para terminar o trabalho!

Alguns meses após defender minha tese de mestrado, em novembro de 1999, admiti que a pós-graduação era estressante demais para mim e que eu precisava dar um tempo. Naquela época, meu namorado era francês, e decidi mudar-me com ele para a França. Uma semana após nossa chegada, a doença surgiu novamente durante uma viagem à Tunísia, no norte da África. Quando voltamos para a França, um médico francês confirmou que eu passara por um episódio de colite ulcerativa e voltei ao tratamento com corticóides. Como esses medicamentos costumam agir rapidamente, em poucas semanas comecei a me sentir melhor – só que, dessa vez, o tratamento não parecia estar ajudando muito...

Minha irmã, Liza, estava morando em Bruxelas. Visitei-a algumas vezes e, em uma dessas ocasiões, ela me disse: “Colite ulcerativa é um nome horrível. Temos que dar outro nome para a sua doença… Algo como “Kitten Snickers.” O nome pegou. Amigos e parentes passaram a chamar minha doença de “Kitten Snickers”.

Minha vida na França se resumia a repouso, yoga, emails e, de vez em quando, uma saída para ir ao correio ou a alguma loja, se eu tivesse energia para sair de casa. Foi uma fase muito difícil - não sabia se conseguiria melhorar e a maioria dos meus parentes e amigos morava muito longe. Sentia-me sozinha e assustada. Todos os dias eu sofria dos mesmos sintomas, alimentava-me da mesma dieta insossa. A cada dia, o estresse sentido pelo meu namorado e sua família aumentava. Estavam visivelmente preocupados com o fato de eu não me recuperar.

No começo de abril de 2000, decidi que uma semana de meditação poderia ajudar minha saúde e ser algo bom para minha irmã também. Assim, Liza e eu partimos para o sul em direção a Plum Village, o monastério e centro de práticas budistas onde Thich Nhat Hanh, mestre zen-vietnamita, vive e transmite seus ensinamentos. Plum Village está rodeada por vinhedos e montanhas, no esplêndido interior da França, a leste de Bordeaux.

Ao chegar a Plum Village, senti imediatamente uma onda de paz. Senti o apoio e a harmonia das monjas de Lower Hamlet. Eram receptivas e calmas. Lembro-me de ver o pôr do sol sentada em algumas pedras, de frente para o pomar. Pensei, “Quanta felicidade — os pássaros, animais e árvores parecem adorar este lugar!”

Honestamente, tinha receio de não tolerar Plum Village. Não sabia se conseguiria me concentrar e passar tanto tempo meditando, todos os dias. Inicialmente, foi um choque cultural. Sempre que o sino soava, ou o telefone ou o relógio de parede tocava, todo mundo em Plum Village parava o que estava fazendo e, em plena consciência, observava três respirações. Liza e eu precisamos de alguns dias para nos acostumarmos a parar e observar nossa respiração ao ouvirmos o sino soar. No começo, também tivemos dificuldade em seguir a programação dos monásticos. Acordávamos às 5 da manhã, praticávamos meditação sentada às 5:30, tomávamos café da manhã às 7:30, fazíamos meditação do trabalho às 8:30, praticávamos meditação caminhando às 11:00, almoçávamos ao meio-dia, sentávamos novamente para meditar às 17:30 e jantávamos às 18:30. O Nobre Silêncio começava às 21:30 e continuava até o final do café da manhã do dia seguinte. Durante o Nobre Silêncio, ninguém podia falar nada – o que não era nada fácil nem para Liza, nem para mim, principalmente com nossa herança ítalo-judaica. Algumas vezes também nos vimos forçadas a driblar ataques de risos incontroláveis!

Não achei que saberia lidar com o rigor da programação diária e com minha doença ao mesmo tempo, mas comecei a me sentir melhor com o passar dos dias. Meu rosto ficou mais corado e os sintomas começaram a desaparecer. Fui me sentindo mais à vontade simplesmente ao acompanhar minha respiração. Como podia ser tão simples e, ao mesmo tempo, ajudar tanto? Eu me sentia segura ao fazer parte de um corpo maior, a “Sangha,” uma comunidade de pessoas praticando a plena consciência. Liza e eu decidimos que uma semana não seria suficiente, então ficamos mais uma semana. Depois, acabei decidindo ficar mais tempo e, com o consentimento da comunidade de Plum Village, fiquei por um total de quase seis semanas.

Em Plum Village aprendi a saborear minha comida e a me alimentar com plena consciência. As refeições eram feitas em silêncio nos primeiros 15 minutos para que todos pudessem se concentrar totalmente na comida. Recitávamos as cinco contemplações antes de cada refeição:
“Este alimento é presente de todo o Universo: ele veio da terra, do céu, de numerosos seres vivos e de muito trabalho árduo.
Que possamos comê-lo em plena consciência e com gratidão, a fim de sermos dignos de recebê-lo.
Que possamos reconhecer e transformar nossas formações mentais não saudáveis, principalmente a ganância, e aprendermos a comer com moderação.
Que possamos manter nossa compaixão viva através de uma alimentação que alivie o sofrimento dos seres vivos, preserve nosso planeta e reverta o processo de aquecimento global.
Aceitamos este alimento para que possamos nutrir nossa irmandade, fortalecer nossa Sangha, e cultivar nosso ideal de servir a todos os seres.”

Antes de começar a comer, tentava identificar a origem dos alimentos que estavam no meu prato: se houvesse pão, por exemplo, pensava nos campos de trigo balançando ao vento, sob o brilho do sol. Se fossem ovos, pensava nas galinhas, seus ninhos e sua comida. Via a chuva, a luz do sol e o solo em cada bocadinho de comida.

O modo como as monjas de Plum Village praticavam a alimentação me ajudava a manter a plena consciência durante as refeições. Elas perceberam que eu não me servia de vários dos alimentos oferecidos nas refeições e me perguntavam, “Por que você não pode comer legumes ou verduras?”
“Meu sistema não aguentaria,” explicava. “Só posso comer alimentos mais simples.”
Certo dia, uma das monjas descobriu que eu podia comer banana. A partir de então, sempre que eu encontrava uma monja, acabava ganhando uma banana. Várias monjas chegaram a “quebrar” o Nobre Silêncio para me perguntar se eu queria mais uma banana. Em 24 horas, cheguei a ganhar seis bananas das monjas. A compaixão delas aqueceu meu coração.

Um dia, cometi o erro de me sentar à mesa das monjas. Vi uma senhora alemã sentada à mesa, então fui lá e me sentei também. Uma das monjas superiores sussurrou ao meu ouvido que aquela mesa estava reservada apenas para monjas. E, em seguida, outra monja superiora disse, “Tudo bem, quem sabe ela vira monja um dia.”
Após o almoço, essa monja veio atrás de mim e disse, “Erica, fique de olho no seu cabelo.”
“De olho no meu cabelo?”, perguntei.
“Isso mesmo, se você começar a sentar muito com as monjas, poderá ficar sem cabelo!” Ela se referia à tradição monástica de raspar a cabeça. Depois ela começou a rir, dizendo, “Só estava brincando com você!”
A amorosidade e o carinho dos monásticos e dos leigos em Plum Village foi, com certeza, responsável por parte do meu processo de cura. Sentia mais energia e mais alegria.

Liza também foi parte integrante do meu processo de cura. Ela sabia que eu completaria 27 anos em poucas semanas, no dia 18 de maio. Um dia, depois dos primeiros 15 minutos de silêncio no jantar, ela me perguntou, “Erica, o que você quer de aniversário?”
“Quero comer legumes,” respondi. “Só isso.”
Uma das monjas, a Irmã Tenzin, ouvir minha resposta e, de tempos em tempos, me perguntava “Será que daqui a pouco você poderá comer legumes?”
“Acho que sim,” eu respondia. E torcia para que fosse verdade. Sentia falta de legumes.

Na primeira vez que comi uma cenoura cozida em Plum Village, senti-me no paraíso. Foi o primeiro legume que comi em meses e tive muito cuidado, experimentando apenas um pedacinho. Estava embebido no saboroso caldo preparado pelas monjas com especiarias vietnamitas. Senti uma explosão de sabores na boca – uau! Que sensação incrível! Meus sentidos estavam altamente aguçados com tanta meditação e eu conseguia me concentrar totalmente naquela cenourinha. Desfrutei a textura e o sabor de cada uma das especiarias. Simplesmente derreteu em minha boca.

Comecei a me sentir cada vez melhor e passei a consumir mais legumes e frutas. Em 18 de maio, consegui comer legumes e até chocolate. Espalhei minha alegria oferecendo pedacinhos de chocolate a muitas pessoas em Plum Village. Foi absolutamente delicioso sentir sabores dos quais havia me privado por tanto tempo. Eu tinha recuperado minha saúde e percebi que chegara a hora de voltar aos Estados Unidos e procurar trabalho em uma organização sem fins lucrativos... (continua em outro post).

N.T. Mais de dez anos se passaram deste então. Atualmente, Erica Hamilton vive na Suécia. É membro ativo da Ordem Interser e, além da vida acadêmica, trabalha com aconselhamento voltado ao bem-estar. Está saudável e muito feliz.

-Traduzido por Denise Kato

quarta-feira, outubro 13, 2010

Ensinamentos sobre não-eu

Para muitos o ensinamento sobre não-eu do budismo é algo muito abstrato. Outros conseguem compreendê-lo na teoria mas não sabem como aplicar essa compreensão no dia a dia. O ensinamento sobre o não eu fala da interdependência de todas as coisas no universo. Nos mostra que para existirmos tudo mais tem que existir. Ele quebra com nossa noção de isolamento, de autonomia. Não só dependemos de tudo que existe nesse momento como de todos os nossos antepassados humanos, animais, vegetais e minerais

Thich Nhat Hanh no texto sugerido desta semana (clique aqui) nos ensina que olhando profundamente em nossa verdadeira natureza, vemos que o que chamamos Eu é feito apenas de elementos de não-eu. Assim você é o filho, mas não só é o filho, você é o pai. Se tirarem o pai de vocês mesmos, irão desmoronar. Vocês são a continuação de seu pai, de sua mãe, de seus antepassados. Isso é não-eu. O filho é feito de pai, o pai é feito de filho, e assim por diante. E a prática é que diariamente temos a oportunidade de olhar para as coisas deste modo -- caso contrário vivemos de um modo muito superficial, e não obtemos o coração da vida.

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sábado, outubro 09, 2010

Ontem não é igual a hoje

Quando o olhar da mente é límpido, vemos tudo como realmente é, de modo natural. Mas assim que os olhos se distraem com objetos externos, não vemos mais. Perdemos a capacidade de ver corretamente. Sons e imagens nos atacam, nos arrastam, nos puxam. Coisas que deveríamos ver, não vemos. Coisas que deveríamos ouvir, não ouvimos. Não é assim?

Se escutarmos o rio sem atenção, a água que corre parece ter um ritmo constante e ininterrupto. Entretanto, nenhuma gota d'água passa duas vezes sobre a mesma pedra. Não é nunca a mesma gota que forma o leito do rio ou o murmúrio da correnteza. A imutabilidade é apenas uma ilusão dos olhos e dos ouvidos humanos. Uma vez que tenha passado, a água não corre nunca mais no mesmo ponto do rio.

A vida humana não é diferente. Acreditar que ontem é igual a hoje é resultado de nossa ignorância e insensibilidade. São nossas mentes e nossos olhos deludidos que vêem o passado igual ao presente. Os olhos iluminados vêem claramente a imagem das coisas em eterno movimento e reconhecem que um instante é diferente de qualquer outro.

Shundo Aoyama Roshi