quarta-feira, abril 27, 2011

Por favor, me chame pelos meus verdadeiros nomes

Não diga que terei que partir amanhã pois,
Mesmo hoje, eu ainda estou chegando
Olhe profundamente; chego a cada segundo
Para ser um broto num galho primaveril,
Para ser um pequeno pássaro, com asas ainda frágeis
Aprendendo a cantar em meu novo ninho,
Para ser uma larva no coração de uma flor,
Para ser uma jóia que se esconde numa pedra.

Ainda chego, para poder rir e chorar,
Para poder ter medo e esperança,
O ritmo do meu coração é o nascimento e a morte
De tudo o que está vivo.

Eu sou a efeméride se metamorfoseando sobre a superfície do rio
E eu sou o pássaro que, quando a primavera chega,
Chega em tempo para comer a efeméride.

Eu sou o sapo nadando feliz na água clara de um lago,
E eu sou a cobra do mato, que, aproximando-se em silêncio,
Se alimenta do sapo.

Sou a criança de Uganda, toda pele e ossos,
Minhas pernas tão finas como caniços de bambu,
E eu sou o mercador de armas, vendendo armas mortais a Uganda

Sou a menina de doze anos
Refugiada em um pequeno barco,
Que se joga ao oceano
Depois de ter sido estuprada pelo pirata do mar.
E sou o pirata,
Com meu coração ainda não capaz
De ver e amar.

Sou um membro do Politburo,
Cheio de poderes em minhas mãos.
E sou o homem que tem que pagar
Seu "débito de sangue" para meu povo
Morrendo lentamente em um campo de trabalhos forçados.

Meu prazer é como a primavera, tão quente que faz
As flores desabrocharem em todos os confins da vida.

Minha dor é como um rio de lágrimas,
Tão cheio que enche todos os quatro oceanos.

Por favor, chame-me por meus verdadeiros nomes,
De modo que eu possa ouvir todos os meus gritos e
Risos ao mesmo tempo,
De modo que eu possa ver que meu prazer e dor são um.

Por favor, chame-me por meus verdadeiros nomes,
De modo que eu possa despertar e de modo que
Possa ficar aberta a porta do meu coração,
A porta da compaixão.

-Thich Nhat Hanh

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