quinta-feira, janeiro 15, 2009

Carta da Sangha de Jerusalém

Querido Thay, Querida Sangha,

Esta manhã, em casa, em Jerusalém, chorei.

Para minha surpresa, não chorei pelos habitantes de Gaza e do sul de Israel, nem pelos jovens israelenses convocados para o serviço militar, por quem sinto uma preocupação natural. Estava meditando sobre o dilema moral enfrentado pelo governo e pelos militares: mísseis e foguetes escondidos em escolas cheias de crianças e de pessoas inocentes em Gaza, lançados sobre crianças e inocentes em Israel. Felizmente, o jardim da infância destruído há poucos dias em Israel havia sido evacuado. A neutralização de mísseis e foguetes antes do lançamento mata crianças e inocentes. A não-neutralização também mata crianças e inocentes. De repente me dei conta do grande sofrimento e do enorme peso da responsabilidade dos tomadores de decisão do governo de meu país, dos quais discordo em tantos aspectos e que infelizmente não tiveram a oportunidade de obter maior clareza da mente através da prática. Ao pensar nas decisões que precisam tomar... Não desejo que ninguém esteja em seu lugar.

Meditei sobre a impermanência usando trechos de um livro do Thay, “Transformation and Healing”, e estou ciente de que minha capacidade de mudar a situação em Gaza – hoje – é limitada. Farei tudo que estiver ao meu alcance para cessar o conflito, mas sei também que as pessoas permanecerão na ignorância, no sofrimento e acabarão transmitindo suas dificuldades, lembranças, sentimentos e formações mentais de uma geração a outra. Devido à natureza da impermanência e do interser, algum dia todos esses fios que estão vivos hoje, a poucas centenas de quilômetros daqui, entrarão em contato com os fios que estou tecendo e transformando neste momento: minha própria ignorância, minhas dificuldades, sentimentos e formações mentais. Quando este momento de contato chegar, seja nesta manifestação ou na próxima, quero que os fios que teço agora estejam preparados, repletos de alegria e com estabilidade suficiente para aceitar e transformar a confusão e a raiva, não importa de onde venham e que forma assumam. Só a guerra causa guerra, só alegria causa alegria, portanto quero cultivar minha alegria hoje, aqui, para que não se perca quando o amanhã chegar.

Inspirando, estou consciente do milagre da vida.
Expirando, sou grato pelo milagre da vida.

Esta tarde, em casa, em Jerusalém, sorrio.

Bar Zecharya
Harmonious Service of the Heart
Jerusalém, Israel
Planeta Terra

2 comentários:

Samuel Cavalcante disse...

Não compreendi muito bem o estado da mente deste nosso irmão de Jerusalém...se vemos dois irmãos brigando, um grande e forte e outro pequeno e fraco e vemos que o pequeno está apanhando muito e que o grande está descontrolado, temos que segurar o grande e impedir que ele, no uso ignorante de sua força física mate seu irmão menor...se no momento da luta nós sorrimos, qual será mensagem que estaremos enviando? Na minha opinião, ambos, o irmão menor e o irmão maior irão ver esse gesto como apoio ao irmão maior...Portanto, não sei se o nosso irmão mais forte de Jerusalém tem alguma noção do significado do seu gesto diante de um massacre do qual ele mesmo, como cidadão do Estado de Israel, está envolvido...

Samuel Cavalcante disse...

o irmão maior, o que está batendo, está tomado pela ira e por isso sofre, e precisamos ter isso em mente quando formos tentar impedí-lo de continuar com seus atos de violência, senão poderemos ser seduzidos pelo desejo de vingança e de nos tornarmos 2 contra 1 e reproduzirmos a mesma violência...no nosso esforço de superarmos o dualismo temos que estar atento ao que momento presente pede de nós e ao que estamos preparados para dar...não basta querer ajudar, temos que nos munir de alguma compreensão, caso contrário, iremos só piorar as coisas...paz para todos