quarta-feira, julho 30, 2008

Contemplação sobre o retiro em Deer Park por um novato (por Jim Dudley)

Sou um policial por mais de 27 anos na polícia de San Francisco. É um trabalho desafiador, recompensador, mas às vezes difícil. Eu já vi mais que minha parcela de violência e tragédias humanas. (...) Quando minha parceira Susan sugeriu que eu a acompanhasse no retiro em setembro, eu prontamente aceitei. Susan é médica com um estilo de vida similar ao meu – trabalho é importante, valoroso e recompensador, mas também muito estressante. Ela segue o Mestre Thich Nhat Hanh e possui e lê muitos de seus livros.

Nos registramos, fizemos nossa tenda e caminhei pela área. Inicialmente estava um pouco apreensivo sobre os dias seguintes, mas me soltei enquanto caminhávamos montanha acima e olhamos no cânion abaixo. A vista é calmante. (..) Subimos ao deck que tem uma vista do cânion, e que é perto do pagode. As árvores circundam o complexo como vigias. O cheiro das árvores de pimenta ainda está comigo. (...)

Susan e eu somos quase vegetarianos, portanto a mudança na dieta não foi difícil para nenhum de nós. As refeições eram ótimas e era óbvio que muito cuidado e pensamento acontecia a cada refeição preparada para nós. Nosso grupo de discussão de Dharma, “Nomes Verdadeiros”, tinha a tarefa de limpeza, tornando os potes e panelas limpos de novo. Era um trabalho bom, limpo e plenamente consciente que desfrutamos como time.

Quando o grupo de Dharma primeiramente se reuniu no nosso segundo dia, minhas primeiras impressões pegaram o melhor de mim. Eu era muito rápido para julgar as pessoas, aborrecido quando alguém pediu para mover o grupo de um local para outro ou quando alguns falavam muito mais frequentemente que outros. Nos apresentamos seguindo o círculo mas isto foi muito breve. Era aparente que todos éramos da área de San Francisco. Conversamos sobre a palestra de Dharma do Thay e o que isso significou para nós. Pelo menos, alguns de nós falamos. Parecia que aqueles que já pertenciam a Sanghas tinham mais a falar. Eu não estava certo sobre o protocolo, portanto me mantive quieto, preferindo ao invés ouvir e aprender. Eu deixei o grupo me sentindo um pouco frustrado, (...) sentindo como se estivesse em um encontro do clube que eu não era membro.

Não me ajudou o fato de no jantar e depois nos mantivéssemos em silêncio. Eu não podia expressar algumas de minhas frustrações e ignorância a Susan até depois do almoço do dia seguinte. É claro que na tarde seguinte, Susan me desarmou com sua habitual e calma razão. Sua voz suave foi um morno boas vindas depois do silêncio prolongado não familiar. Ela me encorajou a me manter um livro aberto, experimentar os ensinamentos, ouvir e aprender da nossa irmã no Dharma e dos outros no grupo. Eu segui seu conselho com renovada determinação. Eu estava plenamente consciente da respiração. Tornei mais lento meu passo durante a meditação caminhando. Senti meu usual pescoço rígido soltando um pouco.

Eu estava cético com relação às palestras de Dharma. Isto mudou um pouco quando ouvi aos ensinamentos do Thay e percebi que não era retórica, mas razão. Ele falou sobre partilha e sacrifício, esperança e inspiração. Quando ele respondeu perguntas de ambos, crianças e adultos, falou em termos facilmente compreensíveis. Não havia ambigüidade. Ele respondeu às questões diretamente. Ele não disse o que as pessoas queriam ouvir. Às vezes ele pedia aos que perguntavam que olhassem para ele. O melhor de tudo é que ele não julgava os outros.

Em um determinado ponto Thay parecia que estava falando para mim quando falou o quão importante os agentes da lei são para nossa comunidade e que ele já organizou retiro para eles. Ás vezes fiquei indeciso, tentando reconciliar ser plenamente atento em um trabalho que requer que sejamos vigilantes, abordar os outros e reagir rápido com instinto em algumas situações. Às vezes meu trabalho requer que usemos força, em algumas ocasiões força para matar. Ele mencionou seu livro, "Keeping the Peace: Mindfulness and Public Service". Eu pensei que seria bom ler sobre como ser mais plenamente atento na minha profissão.

Quando li os Cinco Treinamentos de Plena Atenção, me perguntei se eu poderia cumpri-los. Susan já tinha indicado que tomaria os votos no último dia do retiro. Eu verdadeiramente lutei com o pensamento. Eu poderia facilmente ter dito que iria tentar, como disse alguém no nosso grupo de Dharma, que eles eram "apenas guias". Alguns dos outros no nosso grupo lutaram contra o pensamento assim como eu. Alguns falaram em tomar os treinamentos e segui-los estritamente, enquanto outros davam suas versões do que é verdadeiro comprometimento, com alguma falha misturada.

Enquanto falávamos, o grupo se transformou diante de meus olhos. Indivíduos que anteriormente me aborreceram e que eu via como caricaturas, falavam com compaixão e insight. Um casal falou de tragédias pessoais que levaram eles a um comprometimento profundo com os Treinamentos. Outros falaram de suas religiões anteriores recebidas na infância e o conflito que isso causou dentro delas. Outros ainda falaram de conflitos morais e éticos com o que previamente conheciam. Ocorreu-me que a escolha é de fato um comprometimento pessoal que uma pessoa pode fazer somente por si mesma. No final, encontrei um respeito renovado por todos no meu grupo e desejei que tivéssemos tido essa conversa mais cedo na semana. Eu quis conhecê-los melhor e falar mais sobre mim.

Na manhã seguinte, sentei e assisti enquanto Susan e vários outros no nosso grupo de Dharma se comprometeram com os Cinco Treinamentos de Plena Atenção. A sala de meditação estava completamente cheia de gente apesar de ser bem cedo. Eu ouvi a descrição de cada um dos Cinco Treinamentos e as respostas dos homens, mulheres e crianças que participaram. Uma parte de mim queria estar ali também. Na conclusão da cerimônia, eu testemunhei o quanto isso significou para Susan, enquanto ela abraçava seus amigos e abertamente chorava. Lágrimas de alegria fluíam livremente na sala, incluindo algumas do meu grupo de discussão do Dharma que fizeram reservas a cerca dos Treinamentos na noite anterior. Eu estava feliz que falamos sobre nos encontrarmos novamente ao voltarmos para San Francisco.

Susan e eu juntamos e embalamos as coisas para voltarmos para casa. Desfrutamos de nosso último almoço com alguns de nossos amigos e demos nosso adeus. O que parecia ser potencialmente uma estadia muito longa quando chegamos, mudou para uma curta visita enquanto nos preparávamos para ir. Desde que voltamos para casa, ainda tento viver no presente, mastigar devagar e desfrutar minha comida, ser plenamente atento às coisas que faço. Sei que fisicamente me sinto melhor e muito mais relaxado. Eu realizei algumas caminhadas meditativas e sempre desfruto do relaxamento profundo, meu tipo favorito de meditação. Eu paro quando ouço um sino e lembro de respirar. Tento ser plenamente atento aos outros e não tão rápido para julgar. Estou começando a entender a filosofia de comunidade e apoio e tentarei ensinar e praticar com os outros.

Este retiro não será meu último.

(Jim Dudley é capitão da polícia de San Francisco)

Um comentário:

Anônimo disse...

Muito oportuna essa reflexão. Sou da área criminal também e os sentimentos desse policial tiveram um ressoar profundo na minha alma. Obrigada pela escolha e por compartilhar esse texto na sangha virtual. Que todos os seres possam viver em paz e serem felizes.